terça-feira, 28 de julho de 2009

Dualidade ancestral.

A desilusão vem a tona

Deixando de lado toda

História que hoje afoga

As magoas de uma vida anônima


Cansado de esperar

Por uma vida a zelar

Continuo pensando

E vivo andando

No mesmo lugar


Busquei ilusões

Encontrei a morte

Das minhas funções

Da alma a psicose


Vida, não a possuo

Mas continuo

Pois nunca e jamais

Deixei de amar


Agora não mais

Esquecido no tempo

Do espaço do manto

Que cobre seu pranto


Só digo adeus

Esse corpo já não é meu

E a alma já se foi

E agora não dói


Morte e vida

Um mero fruto

Da dualidade ancestral

A morte fundamental

Eterna solidão.

É como se eu sangrasse, por mil anos, por uma causa perdida, por uma razão esquecida. Reprimido por uma prisão de almas, as quais jamais me libertarão, sem dó, sem perdão, eu continuo sofrendo, pelos erros cometidos por uma raça, que se intitulam inteligentes, mas que se destroem, sem remissão, se prevalecem perante os semelhantes, mas que não passam de um deles, matam seus irmãos, destroem suas edificações, mas que não percebem, que os reais prejudicados são eles mesmos, que a cada passo que dão regressam centenas de milhares, essa raça se intitula de Humanos, se prevalecem perante os demais, com atos grotescos e impiedosos, acabando com milhares de vidas inocentes, que vivem em busca de perdão.

Dessa prisão, percebo que jamais me libertarão, jamais abrirão os olhos e perceberão que eu sou apenas mais um, diante os demais, que buscam a salvação, nas formas mais mortificantes.

Numa vida desgraçada, eu continuo prosperando, tentando ser entendido, numa sociedade errônea. Muitos deles conhecem milhares de pessoas no cyber espaço, mas não conhecem, nem mesmo, os próprios pais, as suas origens.

Ultimo vôo.

Era apenas mais um. Nunca foi grande coisa – e nunca será. Possui poucos amigos, uma vida monótona e bipolar, seu humor não é constante, não possui ambições nem mesmo uma crença, não consegue mais amar – e não o quer, tem medo. Não possui nada que o pudesse prender a vida. É solitário, já voara por todas as barreiras da sociedade, era um pássaro, que hoje passa seus últimos dias sentado, quieto, em sua gaiola, em seu mundo. Nunca quis ser quem é. Buscara antes ajuda – não foi compreendido, fora ignorado. Continuamente era humilhado, já não possuía auto-estima. Quando precisou de um forte e amigável abraço, de uma simples frase: “tudo vai acabar bem”, de um ombro, onde enfim pudesse afogar suas mágoas em meio ao seu pranto, seus amigos riram, e fingiram que nada havia acontecido.

Enfim, hoje decidira, iria voar longe, seu maior sonho agora próximo de si, iria cruzar novamente suas barreiras, quebrar seus meridianos, viajar em tempo-espaço, sem nunca olhar para trás. Sem mesmo saber aonde iria pousar. Chegou a sonhar com sua amada, que ao fim de seu caminho, o esperava com um terno sorriso, num horizonte não muito distante de si.

Chegou na batente da janela, suas asas já abertas, batiam no vento, seus olhos brilhavam ao olhar ao imenso e puro céu. Já não ouvia mais o som atordoante da cidade, já não via o ódio e a falta de compreensão da sociedade. Enfim voltara a sem quem queria ser, sentira a real força do vento, que por seu corpo atravessava, sem deixar um só defeito. Purificava sua alma. O preparando para encontrar, agora, sua liberdade, seu amor.

Desenvolvimento.

Como uma sombra, sem forma, sem face, me demonstro. Sou tudo aquilo que nunca quis. E sem perceber, vivo em constante metamorfose. Esperando sempre ser alguem melhor, como um planeta, que dá voltas em torno de sí. Modifico, aprimoro, lapido e afino, cada lado com perfeião impar, busco o aprimoramento do meus atos. Busco a pureza.

Sem cansar. Sem suspirar. Sem sofrer. Sem chorar. Vivendo poliformicamente, vou me transformando. Jamais serei igual a mim. Sempre em desenvolvimento.

Leio, penso, escrevo, logo existo.

Liberdade.

O vento serpenteia alegremente por entre os ramos das árvores. Se pudesse sentir com certeza sentir-se-ia livre. Livre e rápido como a chuva quando mergulha nas colheitas dos camponeses.

E eu aqui, sentado no banco do meu computador, deslizo os dedos entre as teclas e penso em como saberia a liberdade total. Mas isso é subjectivel, provavelmente nunca ei de alcançá-la. Porque haveria? Sempre que pensá-se lá chegar haveria outros caminhos mais além, muitos outros na qual eu iria desejar percorrer. Ir sempre mais além para mim é óptimo, pensar já ter alcançado tudo e decidir ficar sempre no mesmo patamar não é totalmente bom nem mal (depende dos casos) mas agora quem se contenta em viver numa linda prisão por mais que esta seja de ouro não é ninguém. Vive congelado, iludindo-se, amarrado sem saber que cordas lhe prendem os pulsos...

Certo dia uma escritora norte-americana disse: "Nunca se pode concordar em rastejar, quando se sente ímpeto de voar."

Exploração.

Árvores e montanhas, nenhum pássaro na imensidão do azul. Será esse um mundo para dois? Ou teremos companhia de brancas plumas para um passeio ao lago? Seria minha música o timbre de sua voz?

Juntos a fonte interminável, abrem as pétalas de luz. Ofereço meus olhos ás suas lembranças. Amo o deserto. Árvores crescem e criam profundas raízes na quietude da areia. Ventos de jasmins do deserto, lembranças.

No coração dá árvore, a memória do rio. Invento o que existe, sou poeta, crio. Não me cortam asas nem garganta. Sou o pássaro impossível. Que no alto do eucalipto te convido a uma dança ao léu.

A noite prepara a aurora. Um beijo de boa noite?

Reflexos da noite.

Vagamos pelo petróleo céu da noite. Buscando a lua que desmancha no rio a sua espada de prata cintilante. Sorvemos o barulho indescritível dos sapos, rãs, insetos e o suave assobio das árvores noturnas. Atravessamos a ponte de madeira presa ao cipó. Somos bichos estranhos que na escuridão dos mistérios da noite equalizamos em perfeita comunhão. O que vêem os olhos da coruja quando nos olham? Uma só agulha cerzindo o universo.

Dormindo.

As árvores sonham, a floresta dorme. O orvalho paira no ar. As estrelas saciam a sede no reflexo ao lento lago. A lua e o silêncio me alimentam.

É a minha noite. A minha alma canta.
Sou pálido pássaro pousado nas araucárias, na tênue luz da manhã.

Janela.

Com sorriso cinza e olhos vazios segui em frente por quase cinco passos, quando como num golpe final paraliso. O que faço da minha vida enquanto meus pés medem esse mundo? Como cão vadio que só conhece a gravidade pela saliva que no canto da boca escorre, fiquei a observar a vida passar.

As luzes da distante cidade me encantavam. Sempre me encantaram. Talvez estivesse em um céu estrelado. O vento batia em meu rosto quase petrificado tentando me sussurrar algo que ainda não estava pronto para ouvir. Algo que o mundo queira me dizer.

Do alto da janela podia ouvir os passos dos transeuntes. Me sentia sozinho. Mas feliz. Um casal de namorados a meia noite sentados num banco da praça iluminados pela prata da lua. Estavam sendo observados. Esbarradas rápidas, alguns solitários e algumas solitárias. Felizes ou não, estavam lá vivendo. Sentia o calor dos corpos que passavam sem noção alguma de que estavam sendo observados. A janela era um refúgio, fazia esquecer-me do aprisionamento, me sentia novamente como antes. Como muitos que vi lá na calçada poderia caminhar lado a lado de alguém, sorrindo ou talvez esbarrando em alguém.

Eu poderia ter caminhado sobre aquela calçada sem motivo algum apenas para observar a vida passar, as árvores no outro lado, os mosquitos que voavam próximos às lâmpadas, tropeçado em algum dos tijolos quebrados e então soltado um grito de raiva ou talvez enviado um sorriso falso de constrangimento. Poderia estar pensativo com uma das mãos arrastando-se nas grades negras da grande casa. Mas não fiz nada disso. Hoje podendo ouvir os passos. As vozes longínquas, os sussurros apaixonados. Observando invejosamente os gestos simples e constrangidos, gestos quentes indiscretos.

Eu não sou belo. Não te engano. Minhas asas são negras como a noite, ao invés de harpas trago foices. Mas nem por isso tenho a morte em meu sangue. Desejo sim a felicidade, e hoje sinto o que costumaria chamar de paixão. Uma chance ter a vida que quero, ao seu lado. Ainda que negras, minhas asas não fazem das montanhas barreiras. Ainda que rude, a foice ajudará a limpar o caminho até você. E junto à lua que hoje ilumina minha ambição, ilumina também a ti. E um dia, poderá iluminar a nós.

Ele é crônica.

É, foi o fim. Foi amor em texto. Noite Shakespeareana e sonetos da fidelidade.

A musa inspiradora de grandes olhos azuis. Ela se apaixonou pelo que ele escrevia.E os dois se amaram em letras, parágrafos, pontos e virgulas. Exclamações e beijos de fantasia. E tudo acabou, os beijos acabaram, as segundas-feiras juntos acabaram, as asas negras que rompiam barreiras e as foices que abriam caminhos.

O que sobrou? O texto, pois é só isso que ele sabe fazer. Ela foi pra outra. Ele ficou na mesma. Escrevendo textos sem conteúdos e narrando aventuras derreístas. Ele é crônica. Realmente, um texto vazio. Como este. E para você, dedicado leitor, toda essa paixão de inverno acabou como o arquivo número 10 de julho de 2009. E para mim, narrador, o fim foi na farmácia.